Em encontro em Londres, aliados da Ucrânia reforçam apoio militar a Kiev e debatem estratégia de defesa coletiva
- Alexandre Dehon de Almeida Lima
- 2 de mar.
- 3 min de leitura

"Em encontro em Londres, aliados da Ucrânia reforçam apoio militar a Kiev e debatem estratégia de defesa coletiva"
LONDRES – Líderes de 18 países aliados da Ucrânia, incluindo França, Reino Unido, Canadá, Alemanha e Turquia, reuniram-se neste domingo, 2 de março de 2025, em uma cúpula em Londres para discutir o apoio a Kiev e a segurança europeia. O encontro, mediado pelo primeiro-ministro britânico Keir Starmer, ganhou tom de urgência após o confronto entre o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e o presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca, dois dias antes. Representantes da União Europeia (UE) e da Otan, como Ursula von der Leyen e Mark Rutte, também participaram, ao lado do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.
A cúpula, realizada na Lancaster House, resultou em um compromisso unânime de manter a ajuda militar e a pressão econômica sobre a Rússia, com o objetivo de posicionar a Ucrânia em vantagem em futuras negociações de paz. "Esse apoio será financiado com ativos russos congelados", anunciou Starmer, destacando um fundo estimado em € 300 bilhões apreendidos desde 2022. O premiê britânico revelou que Reino Unido e França liderarão a criação de um plano de paz a ser apresentado a Washington em abril, enfatizando: "A Europa está determinada a fazer o trabalho pesado, mas o sucesso depende do respaldo firme dos Estados Unidos."
Zelensky, recebido com entusiasmo pelos líderes, agradeceu o suporte em discurso: "Cada passo dado aqui fortalece nossa luta por uma paz justa." No sábado, 1º de março, ele assinou com o Reino Unido um acordo de empréstimo de £ 2,26 bilhões (cerca de R$ 16,7 bilhões), a ser pago com lucros de ativos russos na Europa. "Esse recurso vai impulsionar nossa produção de armas e drones", declarou o ucraniano, que busca compensar a instabilidade na relação com os EUA após o embate com Trump.
Rearmamento e defesa europeia
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, alertou sobre a necessidade de "rearmar a Europa urgentemente". Em coletiva, ela prometeu apresentar um plano detalhado na cúpula de defesa da UE, marcada para 6 de março em Bruxelas, prevendo aumento nos gastos militares por pelo menos uma década. "A ameaça russa exige uma resposta robusta e unificada", disse. Já o primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, cobrou solidariedade transatlântica: "Europa e EUA devem falar com uma só voz contra a agressão de Putin."
A reunião, originalmente planejada como estratégica, transformou-se em uma resposta à crise diplomática com Washington. O atrito entre Zelensky e Trump, que o acusou de "ingratidão" e ameaçou cortar a ajuda americana, levou os ucranianos a pressionarem a Europa por maior autonomia em sua defesa. "Queremos meios concretos: munições, veículos, sistemas antiaéreos e treinamento", relatou a correspondente da RFI em Kiev, Emmanuelle Chaze.
A possibilidade de uma dissuasão nuclear europeia também ganhou força, proposta inicialmente pela Alemanha. "É uma ideia de longo prazo, mas pode dar à Europa tempo para reconstruir suas capacidades", analisa Alain de Neve, do Instituto Real Superior de Defesa de Bruxelas. O presidente francês, Emmanuel Macron, reforçou a urgência de um "despertar estratégico europeu", alertando que um cessar-fogo unilateral entre EUA e Rússia violaria o direito internacional e poderia encorajar Moscou a avançar sobre Moldávia ou Romênia.
Apoio britânico e gestos diplomáticos
No sábado, Starmer recebeu Zelensky em Downing Street com uma mensagem clara: "Você tem o apoio total do povo britânico." A imprensa local destaca o papel do Reino Unido como ponte para reaproximar Kiev e Washington, com Starmer articulando junto a Macron uma frente europeia mais assertiva. "Precisamos de rapidez e flexibilidade", disse o premiê.
Na tarde de domingo, Zelensky foi recebido pelo rei Charles III em Sandringham, em um gesto simbólico de apoio. O encontro ocorreu enquanto o Palácio de Buckingham confirmava um convite de visita de Estado a Trump, entregue por Starmer na semana passada, sinalizando esforços para manter os EUA engajados.
Expectativas ucranianas
Os ucranianos aguardam anúncios práticos da Europa, como o envio de mais sistemas de defesa aérea Patriot, treinamento de tropas ou até a criação de uma força pan-europeia de manutenção da paz. Enquanto a Otan e a UE debatem o formato dessa cooperação, a cúpula de Londres reforça a mensagem de que a Europa está disposta a assumir maior responsabilidade — com ou sem os Estados Unidos.
Comentarios